quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Parte II - Lira XII

Parte II

Lira XII

Ah! Marília, que tormento
Não tens de sentir, saudosa!
Não podem ver os teus olhos
A campina deleitosa,
Nem a tua mesma aldeia,
Que, tiranos, não proponham
À inda inquieta idéia
Uma imagem de aflição.
Mandarás aos surdos deuses
Novos suspiros em vão.
Quando levares, Marília,
Teu ledo rebanho ao prado,
Tu dirás: “Aqui trazia
Dirceu também o seu gado.”
Verás os sítios ditosos
Onde, Marília, te dava
Doces beijos amorosos
Nos dedos da branca mão.
Mandarás aos surdos deuses
Novos suspiros em vão.
Quando à janela saíres,
Sem quereres, descuidada,
Tu verás, Marília, a minha
E minha pobre morada.
Tu dirás então contigo:
“Ali Dirceu esperava
Para me levar consigo;
E ali sofreu a prisão.”
Mandarás aos surdos deuses
Novos suspiros em vão.
Quando vires igualmente
Do caro Glauceste a choça,
Onde alegres se juntavam
Os poucos da escolha nossa,
Pondo os olhos na varanda
Tu dirás, de mágoa cheia:
“Todo o congresso ali anda,
Só o meu amado não.”
Mandarás aos surdos deuses
Novos suspiros em vão.
Quando passar pela rua
O meu companheiro honrado,
Sem que me vejas com ele
Caminhar emparelhado,
Tu dirás: “Não foi tirana
Somente comigo a sorte;
Também cortou, desumana,
A mais fiel união.”
Mandarás aos surdos deuses
Novos suspiros em vão.
Numa masmorra metido,
Eu não vejo imagens destas,
Imagens, que são por certo
A quem adora funestas.
Mas se existem, separadas
Dos inchados, roxos olhos,
Estão, que é mais, retratadas
No fundo do coração.
Também mando aos surdos deuses
Tristes suspiros em vão.


  • Glossário:

Choça: o mesmo que choupana.
Congresso: o mesmo que reunião.
Funestas: o mesmo que tristezas.
Masmorra: tipo de prisão.

  • Análise e interpretação:

            A lira XII da parte II do livro Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, tem como tema as lembranças e saudades do eu lírico. Durante toda a lira ele cita suas lembranças do tempo que não estava preso, porém estas citações são todas voltadas à Marília. Ele lamenta a situação em que ele e Marília se encontram, separados, dizendo que sente saudades de estar em sua companhia e de seu amor. Porém, o eu lírico expõe suas saudades de uma forma um tanto peculiar, pois ele visualiza uma “visita” de Marília ao sítio onde costumavam ficar juntos e a partir deste fato imagina o que ela veria ao passo que explica suas saudades. Um outro momento interessante dessa lira é quando ele fala da saudade que sente de seu amigo Glauceste (na quarta estrofe), que é Cláudio Manuel da Costa (introdutor do Arcadismo no Brasil), também inconfidente. O estado de melancolia do eu lírico é visível, principalmente, na última estrofe e no refrão da lira, que pode ser causado não somente pelas saudades que sentia, mas também pela injustiça a qual foi submetido.

       O bucolismo é utilizado na lira, porém, de forma sutil, quando ele se lembra com saudades de seu sítio e amigos (além de Marília, é claro!). Ocorre um uso intenso da razão e a simplicidade na linguagem (inutilia truncat) é visível, sendo esta a característica arcádica mais presente nesta lira.

        Tomás Antônio Gonzaga escreveu essa lira quando estava preso e distante de sua amada, assim como em quase todas as outras liras da parte II do livro. Tomás foi preso em 1789, em regime de incomunicabilidade e por esse motivo não soube do suicídio de Cláudio Manuel da Costa, o qual cita em muitas de suas liras desta segunda parte do livro. Nesta lira, o eu lírico revela um momento de sua história onde sente angustiado pela separação de Marília e seus amigos, além do horrível sentimento de ter sido injustiçado.

Jéssica Paula de Lima Nolasco. / nº 17 / 1ºE

10 comentários:

  1. Concordo que durante toda a lira ele cita lembranças de sua amada. Achei a análise da Jéssica muito esclarecedora, e bem analisada.
    Marcella Dias/ nº27/ 1º E

    ResponderExcluir
  2. Em minha opinião, a aluna Jéssica analisou muito bem a sua lira. Achei sua análise de fácil compreensão e de grande conhecimento.

    Débora Facundes nº08 1ºE

    ResponderExcluir
  3. A análise da Jéssica foi de fácil compreensão e esclarecedora.Concordo com análise da aluna,pois a lira XII tem como tema as lembranças e saudades do eu lírico,suas lembranças são de quando ainda não estava preso.Só tenho uma dúvida em meio a essa ótima análise,é se Dirceu escreveu está lira quando ainda estava preso aqui no Brasil ou se já estava em Moçambique.


    Ana Caroline L. Henrique/nº:04/1ºE

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Visto que Tomás ficou preso no Brasil durante 3 anos e depois foi enviado para Moçambique, por ser apontado como integrante da Inconfidência Mineira, acredito que quando escreveu esta lira ele já estava em Moçambique,pois neste momento seus sentimentos são muito intensas e suas saudades, implacáveis. Porém não posso afirmar com total segurança esta informação.

      Jéssica Paula de Lima Nolasco./ nº17/ 1ºE

      Excluir
  4. deu pra entender bem alira da aluna,pois o tomás sendo preço lenbrava da sua amada e escrevia pra ela.
    lais cabral 1e n22

    ResponderExcluir
  5. A analise da aluna Jéssica está ótima ao meu ver, pois foi de fácil entendimento e como a aluna Débora falou, de grande conhecimento.

    Rebeca Schneider Kunzendorff. / n°33/ 1°E

    ResponderExcluir
  6. Em minha opinião a análise da aluna Jéssica foi ótima pois durante toda a lira ela soube relatar muito bem as lembranças do autor por sua amada .
    Suelen Soares /1ºE/36

    ResponderExcluir
  7. A lira analisada foi feita com grande conhecimento,e foi explicada com clareza.
    Laura Marques Garcia
    1°E N°23

    ResponderExcluir
  8. OLA BOA NOITE!!!GOSTARIA DE SABER SE VCS NAO TEM A ANALISE DA LIRA XI?AGUARDO OBRIGADA!!!

    ResponderExcluir
  9. Desculpe, mas ainda não temos a interpretação desta lira. Porém as interpretações podem ser facilmente feitas a partir da leitura do livro Marília de Dirceu e com um breve conhecimento sobre o contexto histórico em que viveram. :)

    Jéssica Paula nº17 1ºE

    ResponderExcluir