Parte II - Lira XV
Lira XV
Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro,
Fui honrado pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
Nem tenho a que me encoste um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande trono.
Agora que te oferte já não vejo,
Além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava, apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te ao menos compassivo o rosto.
Propunha-me dormir no teu regaço
As quentes horas da comprida sesta,
Escrever teus louvores nos olmeiros
Toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo céu que não convinha
Que a tanto grau subisse a glória minha.
Ah! minha bela, se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço e provo,
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo,
Romper a nuvem que os meus olhos cerra,
Amar no céu a Jove e a ti na terra!
Fiadas comprarei as ovelhinhas,
Que pagarei dos poucos do meu ganho
E dentro em pouco tempo nos veremos
Senhores outra vez de um bom rebanho.
Para o contágio lhe não dar, sobeja
Que as afague Marília, ou só que as veja.
Se não tivermos lãs e peles finas,
Podem mui bem cobrir as carnes nossas
As peles dos cordeiros mal curtidas
E os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mão cosido.
Nós iremos pescar na quente sesta
Com canas e com cestos os peixinhos
Nós iremos caçar nas manhãs frias
Com a vara envisgada os passarinhos.
Para nos divertir faremos quanto
Reputa o varão sábio, honesto e santo.
Nas noites de serão nos sentaremos
Cos filhos, se os tivermos, à fogueira.
Entre as falsas histórias que contares,
Lhes contarás a minha, verdadeira.
Pasmados te ouvirão; eu, entretanto,
Ainda o rosto banharei de pranto.
Quando passarmos juntos pela rua,
Nos mostrarão co dedo os mais pastores,
Dizendo uns para os outros: “Olha os nossos
Exemplos da desgraça, e sãos amores.”
Contentes viveremos desta sorte,
Até que chegue a um dos dois a morte.
Interpretação
A lira XV da parte II do livro Marília de Dirceu,Tomás Antônio Gonzaga retrata um sentimento genuíno por sua amada, por ser tão simples e cordial, sua afeição se diferencia da maioria das histórias amorosas da liras. Tomás tenta demonstrar de maneira humilde, mera importância na vida de Marília, por ser o pastor do rebanho de sua aldeia. Embora Tomás queira dar tudo a Marília, ele mostra ter um sentimento puro e sincero, expressando então que de um rebanho o poder não teria. Preocupado com suas condições financeiras, Tomás matinha a expectativa no intuito de conquistá-la, sempre sonhando com o que poderia acontecer, nunca desistiu de dar o melhor para sua amada Marília.
Características do Arcadismo
As principais características das obras do arcadismo brasileiro são : valorização da vida no campo, crítica a vida nos centros urbanos (fugere urbem = fuga da cidade), uso de apelidos, objetividade, idealização da mulher amada, abordagem de temas épicos, linguagem simples, pastoralismo e fingimento poético.
Características do Arcadismo na Lira
Na lira, o autor apresenta a valorização da vida no campo, a idealização da mulher amada, a abordagem de um tema épico e a utilização do pastoralismo, tudo estruturado na linguagem simples.
Glossário
Choça: Cabana de ramos de árvores ou colmo, própria das florestas tropicais.
Mor: Forma simplificada de maior.
Regaço: Asil, colo, abrigo.
Afagar: Acarinhar, fazer carinhos.
Situação Histórica
A lira é uma obra pré-romântica, na qual o autor idealiza sua amada e supervaloriza o amor, é uma obra árcade em toas as outras características. Nela o autor descreve a beleza de sua pastora Marília, que campara á de Afrodite e usa de várias figuras mitológicas. O bucolismo é extremo na obra, com referências permanentes do campo e á vida pastoril idealizada pelos árcades.
Laura Marques Garcia
N°: 23
Série/Turma: 1° E.
A interpretação, as características do arcadismo e a situação histórica foram bem analisadas na lira da aluna Laura.
ResponderExcluirRebeca Shneider Kunzendorff N°:33 Turma:1°E
a característeca da aluna deu pra intender muito bem,foi muito bem falando da vida no campo e da
ResponderExcluirindealização da mulher amada.
lais cabral 1e n22
A análise da aluna Laura foi de fácil compreensão e bem simples, porém a sua situação histórica está errada. O que a aluna postou como situação histórica é na verdade uma interpretação. Nesta época Tomás Antônio Gonzaga estava na prisão e com lembranças de sua amada e sofrendo por causa da saudade, essa é a situação histórica da segunda parte do livro.
ResponderExcluirDébora Facundes Muniz nº08 1ºE
Concordo com a aluna Laura , pois a análise dela foi de fácil compreensão.
ResponderExcluirSuelen Soares/1ºE/36
A análise da aluna está simples e de boa compreensão,porém a situação histórica está errada,sua situação histórica está mais parecida com a interpretação.A situação histórica da segunda parte do livro é que Dirceu está preso e sofrendo .
ResponderExcluirAna Caroline L. Henrique /nº:04/1ºE
A análise está ótima, muito clara. Porém concordo com a Débora que a situação histórica é uma interpretação.
ResponderExcluirMarcella Dias/ nº27/ 1ºE
As características do Arcadismo foram bem abordadas, em minha opinião. Diferentemente dos outros comentários gostei da situação histórica e não acho que esteja totalmente errada, acredito que a aluna misturou este tópico com as características do Arcadismo e podia ter dado mais detalhes, mas no geral ficou bom. Em sua interpretação, a aluna diz "por ser o pastor do rebanho de sua aldeia", porém Tomás não morava em uma aldeia, pelo contrário tinha boa situação financeira, porém inferior à da família de Marília.
ResponderExcluirJéssica Paula de Lima Nolasco./ nº17/ 1ºE
O eu lirico refere se a dor da separação. A que fato histórico estão ligados esses versos ?
ResponderExcluir