Parte III - Lira V
Eu não sou, minha Nise, pegureiro
Que viva de guardar alheio gado;
Nem sou pastor grosseiro,
Dos frios gelos e do sol queimado,
Que veste as pardas lãs do seu cordeiro.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
A Cresso não igualo no tesouro;
Mas deu-me a sorte com que honrado viva.
Não cinjo coroa d’ouro;
Mas povos mando, e na testa altiva
Verdeja a coroa do sagrado louro.
Graças,
ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
Maldito seja aquele que só trata
De contar, escondido, a vil riqueza,
Que, cego, se arrebata
Em buscar nos avós a vã nobreza,
Com que aos mais homens, seus iguais, abata.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
As fortunas, que em torno de mim vejo,
Por falsos bens, que enganam, não reputo;
Mas antes mais desejo:
Não para me voltar soberbo em bruto,
Por ver-me grande, quando a mão te beijo.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
Pela ninfa, que jaz vertida em louro,
O grande deus Apolo não delira?
Jove, mudado em touro
E já mudado em velha não suspira?
Seguir aos deuses nunca foi desdouro.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
Pertendam Anibais
honrar a História,
Cinjam com a mão, de sangue cheia,
Os louros da vitória;
Eu revolvo os teus dons na minha ideia:
Só dons que vêm do céu são minha glória.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
Glossário:
Pegureiro: guardador de gado. Relativo a pastor.
Vil : que
degrada o homem. Desprezível.
Reputo:
Julgar, ter em conta, considerar.
Desdouro: Aquilo que é desonroso ou que mancha a reputação.
Cinjam/
Cinjo: [cingir] Aquilo que é desonroso ou que mancha a
reputação. (figurado) Limitar, restringir.
Jove: equivalente ao
deus Júpiter( mitologia romana).
Aníbais: [Aníbal] foi um general e estadista cartaginês considerado por muitos como um dos maiores táticos militares da história.
Interpretação e análise:
A lira V da terceira parte do livro Marília de Dirceu é muito parecida com a lira I da primeira parte do mesmo livro e, por esse motivo, há que diga quem diga que esta lira é a primeira versão da lira apresentada da parte I. Há duas possíveis interpretações possíveis para a lira V, quando pesquisamos sobre a lira, uma delas diz que ela "teria sido composta no Brasil, embora seus versos estejam dirigidos não a Marília mas a uma Nise" (como proposto por Rodrigues Lapa/ fonte: www.dominiopublico.gov.br/ );e, a segunda seria a de que Nise poderia ser um outro pseudônimo pra Maria Dorotéia. Porém em qualquer uma que seja a interpretação, na lira o poeta traça seu perfil, assim como na lira I (parte I), mostra desprezo por quem contempla o dinheiro que nem mesmo seria de sua propriedade, querendo demonstrar, ao mesmo tempo, não ser assim. Deseja demonstrar além de tudo sua humildade, caráter e amor.
O bucolismo não é encontrado na lira ( diferentemente do que ocorre na lira I da parte I). A linguagem não é rebuscada, é simples e utiliza um vocabulário de fácil compreensão, além de haver a utilização de figuras mitológicas no decorrer da lira.
Não se tem certeza sobre a situação histórica da lira, mas acredita-se que possa ter sido escrita no Brasil, segundo a primeira possível interpretação, ou quando estava exilado já que não escreveu após seu degredo.
Jéssica Paula de Lima Nolasco. / nº17 / 1ºE
A análise realizada pela aluna foi ótima, em todos os tópicos compreendi muito bem no que é falado na lira.
ResponderExcluirLaura Marques Garcia
N°:23 1°E
Essa lira foi muito bem analisada e de grande conhecimento.
ResponderExcluirRebeca Schneider Kunzendorff/ n:33/ 1E
Concordo com a aluna em todos os tópicos , pois a análise foi de fácil entendimento e de grande conhecimento .
ResponderExcluirSuelen Soares /1° E / 36
A lira da aluna Jéssica foi muito bem analisada e de grande conhecimento como as meninas disseram.
ResponderExcluirDébora F. Muniz nº08 1ºE
A análise foi bem desenvolvida,seus tópicos foram claros e objetivos o que proporciona um grande conhecimento em relação a essa lira.
ResponderExcluirAna Caroline L.Henrique 1ºE Nº04