terça-feira, 13 de agosto de 2013

Parte I - Lira XVIII


Lira XVIII

Não vês aquele velho respeitável
            Que à muleta encostado
Apenas mal se move, e mal se arrasta?
Oh! Quanto estrago não lhe fez o tempo!
 O tempo arrebatado,
            Que o mesmo bronze gasta.

Enrugaram-se as faces, e perderam
Seus olhos a viveza;
Voltou-se o seu cabelo em branca neve;
Já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
Nem tem uma beleza
Das belezas, que teve.

Assim também serei, minha Marília,
Daqui a poucos anos,
Que o ímpio tempo para todos corre:
Os dentes cairão e os meus cabelos.
Ah! Sentirei os danos
Que evita só quem morre.

Mas sempre passarei uma velhice
Muito menos penosa.
Não trarei a muleta carregada,
Descansarei o já vergado corpo
Na tua mão piedosa,
Na tua mão nevada.

Nas frias tardes, em que negra nuvem
Os chuveiros não lance,
Irei contigo ao prado florescente:
Aqui me buscarás um sítio ameno,
Onde os membros descanse,
E o brando sol me aquente.

Apenas me sentar, então, movendo
Os olhos por aquela
Vistosa parte, que ficar fronteira,
Apontando direi: “Ali falamos,
Ali, ó minha bela,
Te vi a vez primeira.”

Verterão os meus olhos duas fontes,
Nascidas de alegria;
Farão teus olhos ternos outro tanto;
Então darei, Marília, frios beijos
Na mão formosa e pia,
Que me limpar o pranto.

Assim irá, Marília, docemente
Meu corpo suportando
Do tempo desumano a dura guerra.
Contente morrerei, por ser Marília
Quem, sentida, chorando,

Meus baços olhos cerram.

->Glossário:
-ímpio: Que denota ou envolve impiedade.
-chuveiros: - neste caso - Chuva com trovões e trovoadas.
-verterão:[verter] Deixar sair de si o líquido contido.

-> Análise e interpretação:

Diferentemente da maior parte das liras do livro Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, a lira XVIII tem a morte como tema principal, embora seja abordada de forma romântica. O eu lírico inicia a lira com o exemplo de um idoso, onde o caracteriza e logo após diz que seu tempo também irá chegar, porém afirma que sua velhice será diferente porque Marília cuidaria dele. Em uma outra estrofe, o poeta se refere aos cuidados que a amada teria que ter com ele, como por exemplo levá-lo para passear, ir para um sítio (um lugar agradável com sol ameno), onde neste olharia para o horizonte e se recordaria do dia em que a viu pela primeira vez e junto à essa lembrança os dois chorariam. Neste momento o poeta retorna ao tema principal, onde por fim, diz que morreria feliz se estivesse  junto à sua amada.

É importante destacar, para a melhor compreensão da lira, que o eu poético, Tomás Antônio Gonzaga era muito mais velho que sua amada, Marília, caracterizando uma situação que foge dos padrões, onde uma moça jovem teria que cuidar de seu amado, que seria um homem já em sua velhice.

Esta obra pertence a um período literário chamado Arcadismo, portando a lira possui algumas características desse período, uma delas é o bucolismo. Nesta lira são resgatados três temas clássicos: a fuga da cidade (fugere urbem), quando ele diz para amada que terá de levá-lo a um sítio; outro tema é a ideia de um lugar ameno (locus amoenus) onde os amantes se encontrariam para desfrutar dos prazeres da natureza, lugar este caracterizado pelo sítio; o terceiro tema é o de cortar o inútil (inutilia truncat), que está presente em toda a lira, este princípio é fundamentado na eliminação dos excessos, evitando o uso mais elaborado da linguagem, de modo que escrevessem de forma direta, simples e clara.

Jéssica Paula de Lima Nolasco./ nº:17/ 1º E 

8 comentários:

  1. Bom dia!
    Procure três assonâncias na primeira parte do livro e coloque no blog. Cada aluno coloque três assonâncias. Tenha uma boa semana.
    Professor Ivan

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  2. Em minha opinião, a aluna Jéssica analisou a lira muito bem e de forma direta e clara. As características do Arcadismo foram bem analisadas e a interpretação está de acordo com a lira XVIII publicada por ela.

    Débora Facundes Muniz nº08 1ºE

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  3. Análise ótima da aluna Jéssica,sua forma clara e direta de explicação faz com que o leitor entenda bem o que esta sendo explicado na lira.

    Ana Caroline L.Henrique/nº04/1ºE

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  4. A interpretação dessa lira foi bem feita,de modo agradável para ler.
    As características do Arcadismo estão muito bem analisadas.
    Rebeca Schneider Kunzendorff /nº33/1ºE

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  5. Concordo em parte com a minha colega, pois acho que na lira o autor narra a sua velhice e a diferença de idade da sua amada e não da morte em si, a morte seria uma consequência da velhice, o autor deixa claro a insatisfação de está velho e não pode viver com sua amada o amor da juventude. Contudo a analise da minha colega foi muito boa, principalmente a situação histórica foi muito esclarecedor. Suelen Soares Rocha - 1º E - 36

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    1. Concordo em parte com você Suelen, pois minha colocação quando digo que o tema principal da lira é a morte, foi exatamente a que você comentou, a morte como consequência da velhice e a forma como o eu lírico a enfrentaria ao lado de sua amada, porém não acredito que a palavra correta para se referir ao sentimento do autor seja insatisfação.

      Jéssica Paula de Lima Nolasco. /nº17 / 1ºE

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  6. Na minha opinião a lira analisada pela aluna Jéssica foi de muita clareza,assim como as características do arcadismo e a situação histórica.

    Laura Marques Garcia n°23 1°E

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  7. Concordo com a Jéssica em sua análise que está muito esclarecedora, e de fácil compreensão.
    Marcella Dias/ nº27/ 1ºE

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