PARTE III LIRA IV
amor poracaso
a um pouco chegava,
aonde acolhida
a morte se achava.
risonhos e alegres,
os braços se deram,
e as armas unidas
num sítio puseriam
de empresas tamanhas
cansados já vinham,
e em larga conversa
a noite ententinham
um conta que há pouco
a seta aguçada
em uma beleza
deixara empregava
diz outro que as flechas
cravara no peito
de um gande,que teve
o mundo sujeito
enquanto das foças
cada um presumia,
seus membras já lassos
o sono rendia
dormindo tranquilos,
a noite passaram,
e inda antes da aurora
com ânsia acordaram
é tempo que o leito
deixemos,ó morte
amor,já erguido,
falou desta desta sorte
é tempo,-em rerespota
a morte repete
que a nossa fadiga
dormir não compete
as armas colhamos,
voltemos ao giro
cada um a seu gosto
empregue o seu tiro
vão,inda os olhos
em sono turbados,
ao sítio em que os ferros
estão pendurados
amor para as setas
da morte se enclina;
de amor lodo a morte
co´as flechas atina.
oh!golpes tiramos!
oh!mãos homicida!
são tiros da morte
de amor as feridas
de um sonho,que pinto,
marília,conhece
se amor,ou se morte
esta alma padece
GLOSSARIO
presumia:adivinnhava,conjuturava,imaginava,julgava,pressentia,pressupunha,prognosticava,supunha.
homocida:pessoa que mata outra,assassino.
INTERPRETAÇÃO:essa lira fala mas do amor dele para com ela, ele fala que ele se snte muito bem quando ele estar com ela ,eles rinham e abracam e eles tem cada um o seu gosto.
lais cabral 1e n22
Este blog tem como objetivo a análise de algumas liras do livro "Marília de Dirceu", escrito pelo poeta Tomás Antônio Gonzaga. Este trabalho será realizado por algumas alunas do 1° ano E do Centro de Ensino Médio Setor Leste- Brasília. Esperamos ajudar outras pessoas a compreenderem o que esse grande poeta viveu e retratou em seus poemas.
sábado, 31 de agosto de 2013
Parte III - Lira VII
PARTE III – LIRA VII
Tu,
formosa Marília, já fizeste
Com teus olhos ditosas as campinas
Do turvo ribeirão em que nascestes;
Deixa, Marília, agora
As já lavradas setas:
Anda afoita a romper os grossos mares,
Anda encher de alegria estranhas terras;
Ah! por ti suspiram
Os meus saudosos lares.
Não corres como Safo sem ventura,
Em seguimento de um cruel ingrato,
Que não cede aos encantos da ternura;
Segues um fino amante,
Que a perder-te morria.
Quebra os grilhões do sangue, e vem, ó Bela;
Tu já foste no Sul a minha guia,
Ah! deves ser no Norte
Também a minha estrela.
Verás ao Deus Netuno sossegado,
Aplainar c'o tridente as crespas ondas;
Ficar como dormindo o mar salgado;
Verás, verás, d'alheta
Soprar o brando vento;
Mover-se o leme, desrinzar-se o linho:
Seguirem os delfins o movimento,
Que leva na carreira
O empavesado pinho.
Verás como o Leão na proa arfando
Converte em branca espuma as negras ondas,
Que atalha, e corta com murmúrio brando;
Verás, verás, Marília,
Da janela dourada,
Que uma comprida estrada representa
A linfa cristalina, que pisada
Pela popa que foge,
Em borbotões rebenta.
Bruto peixe verás de corpo imenso
Tornar ao torto anzol, depois de o terem
Pela rasgada boca ao ar suspenso;
Os pequenos peixinhos
Quais pássaros voarem;
De toninhas verás o mar coalhado,
Ora surgirem, ora mergulharem,
Fingindo ao longe as ondas,
Que forma o vento irado.
Com teus olhos ditosas as campinas
Do turvo ribeirão em que nascestes;
Deixa, Marília, agora
As já lavradas setas:
Anda afoita a romper os grossos mares,
Anda encher de alegria estranhas terras;
Ah! por ti suspiram
Os meus saudosos lares.
Não corres como Safo sem ventura,
Em seguimento de um cruel ingrato,
Que não cede aos encantos da ternura;
Segues um fino amante,
Que a perder-te morria.
Quebra os grilhões do sangue, e vem, ó Bela;
Tu já foste no Sul a minha guia,
Ah! deves ser no Norte
Também a minha estrela.
Verás ao Deus Netuno sossegado,
Aplainar c'o tridente as crespas ondas;
Ficar como dormindo o mar salgado;
Verás, verás, d'alheta
Soprar o brando vento;
Mover-se o leme, desrinzar-se o linho:
Seguirem os delfins o movimento,
Que leva na carreira
O empavesado pinho.
Verás como o Leão na proa arfando
Converte em branca espuma as negras ondas,
Que atalha, e corta com murmúrio brando;
Verás, verás, Marília,
Da janela dourada,
Que uma comprida estrada representa
A linfa cristalina, que pisada
Pela popa que foge,
Em borbotões rebenta.
Bruto peixe verás de corpo imenso
Tornar ao torto anzol, depois de o terem
Pela rasgada boca ao ar suspenso;
Os pequenos peixinhos
Quais pássaros voarem;
De toninhas verás o mar coalhado,
Ora surgirem, ora mergulharem,
Fingindo ao longe as ondas,
Que forma o vento irado.
Verás que o grande monstro se apresenta,
Um repuxo formando com as águas,
Que ao mar espalha da robusta venta;
Verás, enfim, Marília,
As nuvens levantadas,
Umas de cor azul, ou mais escuras,
Outras de cor-de-rosa, ou prateadas,
Fazerem no horizonte
Mil diversas figuras.
Mal chegares à foz do claro Tejo,
Apenas ele vir o teu semblante,
Dará no leme do baixel um beijo.
Eu lhe direi vaidoso:
Não trago, não, comigo,
Nem pedras de valor, nem montes d'ouro;
Roubei as áureas minas, e consigo
Trazer para os teus cofres
Este maior Tesouro.
INTERPRETAÇÃO
O
poema VII da terceira parte Tomás Antônio Gonzaga escreve a Marília para que
deixe os campos e venha até ele atravessando os mares. Ele pede a ela que
seja novamente a sua direção (segunda estrofe) e venha até ele. E quando chegar
ele irá dizer que não tem riquezas mas que traz o seu maior tesouro que em
minha opinião é o seu amor.
CARACTERÍSTICAS DO
ARCADISMO NA LIRA
Muitos
não consideram os poemas da III parte como realmente parte do livro porém, a
lira VII ainda apresenta as características do arcadismo como a linguagem
simples, a utilização das figuras mitológicas e a caracterização de um lugar
ameno onde eles irão se encontrar (locus
amoenos) que é típico dos poemas de Tomás Antonio Gonzaga.
SITUAÇÃO HISTÓRICA
Não
se tem certeza da situação histórica, mas provavelmente foi escrita depois de
seu degredo.
GLOSSÁRIO
Ditosas – que tem boa sorte, feliz, venturoso.Aplainar - Facilitar; remover dificuldades; superar obstáculos.
Aprimorar, polir, educar.Alheta - Náutica Prolongamento externo da popa do navio.
Leme - Superfície plana situada na parte traseira de um barco, ou de um avião, e que serve para dar direção.
Delfins – Espécie de asas, no segundo reforço dos antigos canhões de bronze.
Empavesado - Engalanado, enfeitado, ataviado.
Linfa - Água, principalmente, nítida, límpida ou pura.
Borbotão - Jato, jorro; cachão.
Baixel - Navio ou barco de pequeno porte; embarcação.
Débora Facundes Muniz/1º E/nº 08
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Parte III - Lira II
Lira II
Em vão do amado
filho que foge,
Vênus quer hoje
notícias ter.
Sagaz e astuto
ele se esconde
em parte aonde
ninguém o vê.
Dos sinais dados,
bem se conhece
que ele aborrece
a mãe que tem.
Se os seus defeitos
Ela publica,
razão lhe fica
de se ofender.
Foge o menino
e, disfarçado,
vive abrigado
numa cruel.
Com mil carícias
a ímpia o trata
nem o desata
do peito seu.
Se a semelhança
sempre amor gera,
deve uma fera
outra acolher.
Ah! se o teu nome,
Marília, calo,
que de ti falo
bem podes crer.
Interpretação
Na lira II da terceira parte do livro Marília de Dirceu, Tomás Antônio Gonzaga retrata o momento de sua vida, em que Vênus ( deusa do amor e da beleza) como é definida Marília, diz que sua amada deseja notícias suas saber. No poema fala do filho que foge para os braços de sua mãe, onde ninguém poderá encontrá-lo, pois todos pensam que a mãe não o quer pelos aborrecimentos do passado, mas como uma fera, ela o acolhe. Diferente não seria a fera protegendo sua cria.
Características do Arcadismo
As características do arcadismo são a oposição ao barroco que faz uma proposta de linguagem simples, de frases na ordem direta e de palavreado de uso popular, ou seja, o contrário das pregações do seiscentismo. Os versos brancos que ao contrário do Barroco, o poeta árcade pode usar o verso branco ( sem rima ) , numa atitude que simboliza liberdade na criação, e a a poesia como imitação da natureza que os árcades copiavam os modelos clássicos ou renascentistas, numa flagrante falta de originalidade, o poeta buscava na natureza, os modelos de beleza, bondade e perfeição.
Características do Arcadismo na Lira
Na lira possui uma linguagem mitológica como é citado, Vênus ( deusa do amor e da beleza), mas não possui o bucolismo como a maioria das liras no livro Marília de Dirceu, e sim uma linguagem direta e que evita o rebuscamento.
Glossário
Vênus : Deusa do amor e da beleza.
Sagaz : Que não pode, ou não se pode enganar, esperto.
Astuto : Característica de quem consegue obter privilégios para si e não se deixa ludibriar.
Ímpia : Algo ou alguém, que despreza a religião.
Desata : Resolver, decidir.
Situação Histórica
Não é certeza que tenha uma situação histórica, mas poderia provavelmente ter escrito depois de seu degredo.
Laura Marques Garcia
N° : 23
Turma : 1° E
Lira II
Em vão do amado
filho que foge,
Vênus quer hoje
notícias ter.
Sagaz e astuto
ele se esconde
em parte aonde
ninguém o vê.
Dos sinais dados,
bem se conhece
que ele aborrece
a mãe que tem.
Se os seus defeitos
Ela publica,
razão lhe fica
de se ofender.
Foge o menino
e, disfarçado,
vive abrigado
numa cruel.
Com mil carícias
a ímpia o trata
nem o desata
do peito seu.
Se a semelhança
sempre amor gera,
deve uma fera
outra acolher.
Ah! se o teu nome,
Marília, calo,
que de ti falo
bem podes crer.
Interpretação
Na lira II da terceira parte do livro Marília de Dirceu, Tomás Antônio Gonzaga retrata o momento de sua vida, em que Vênus ( deusa do amor e da beleza) como é definida Marília, diz que sua amada deseja notícias suas saber. No poema fala do filho que foge para os braços de sua mãe, onde ninguém poderá encontrá-lo, pois todos pensam que a mãe não o quer pelos aborrecimentos do passado, mas como uma fera, ela o acolhe. Diferente não seria a fera protegendo sua cria.
Características do Arcadismo
As características do arcadismo são a oposição ao barroco que faz uma proposta de linguagem simples, de frases na ordem direta e de palavreado de uso popular, ou seja, o contrário das pregações do seiscentismo. Os versos brancos que ao contrário do Barroco, o poeta árcade pode usar o verso branco ( sem rima ) , numa atitude que simboliza liberdade na criação, e a a poesia como imitação da natureza que os árcades copiavam os modelos clássicos ou renascentistas, numa flagrante falta de originalidade, o poeta buscava na natureza, os modelos de beleza, bondade e perfeição.
Características do Arcadismo na Lira
Na lira possui uma linguagem mitológica como é citado, Vênus ( deusa do amor e da beleza), mas não possui o bucolismo como a maioria das liras no livro Marília de Dirceu, e sim uma linguagem direta e que evita o rebuscamento.
Glossário
Vênus : Deusa do amor e da beleza.
Sagaz : Que não pode, ou não se pode enganar, esperto.
Astuto : Característica de quem consegue obter privilégios para si e não se deixa ludibriar.
Ímpia : Algo ou alguém, que despreza a religião.
Desata : Resolver, decidir.
Situação Histórica
Não é certeza que tenha uma situação histórica, mas poderia provavelmente ter escrito depois de seu degredo.
Laura Marques Garcia
N° : 23
Turma : 1° E
Parte III - Lira IX
Lira IX
Chegou-se o dia mais triste
que o dia da morte feia;
caí do trono, Dircéia,
do trono dos braços teus,
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Ímpio Fado, que não pôde
os doces laços quebrar-me,
por vingança quer levar-me
distante dos olhos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Parto, enfim, e vou sem ver-te,
que neste fatal instante
há de ser o teu semblante
mui funesto aos olhos meus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
E crês, Dircéia, que devem
ver meus olhos penduradas
tristes lágrimas salgadas
correrem dos olhos teus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
De teus olhos engraçados,
que puderam, piedosos,
de tristes em venturosos
converter os dias meus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Desses teus olhos divinos,
que, terno e sossegados,
enchem de flores os prados
enchem de luzes os céus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Destes teus olhos, enfim,
que domam tigres valentes,
que nem rígidas serpentes
resistem aos tiros seus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Da maneira que seriam
em não ver-te criminosos,
enquanto foram ditosos,
agora seriam réus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Parto, enfim, Dircéia bela,
rasgando os ares cinzentos;
virão nas asas dos ventos
buscar-te os suspiros meus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Talvez, Dircéia adorada,
que os duros fados me neguem
a glória de que eles cheguem
aos ternos ouvidos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Mas se ditosos chegarem,
pois os solto a teu respeito,
dá-lhes abrigo no peito,
junta-os cos suspiros teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
E quando tornar a ver-te,
ajuntando rosto a rosto,
entre os que dermos de gosto,
restitui-me então os meus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
caí do trono, Dircéia,
do trono dos braços teus,
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Ímpio Fado, que não pôde
os doces laços quebrar-me,
por vingança quer levar-me
distante dos olhos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Parto, enfim, e vou sem ver-te,
que neste fatal instante
há de ser o teu semblante
mui funesto aos olhos meus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
E crês, Dircéia, que devem
ver meus olhos penduradas
tristes lágrimas salgadas
correrem dos olhos teus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
De teus olhos engraçados,
que puderam, piedosos,
de tristes em venturosos
converter os dias meus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Desses teus olhos divinos,
que, terno e sossegados,
enchem de flores os prados
enchem de luzes os céus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Destes teus olhos, enfim,
que domam tigres valentes,
que nem rígidas serpentes
resistem aos tiros seus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Da maneira que seriam
em não ver-te criminosos,
enquanto foram ditosos,
agora seriam réus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Parto, enfim, Dircéia bela,
rasgando os ares cinzentos;
virão nas asas dos ventos
buscar-te os suspiros meus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Talvez, Dircéia adorada,
que os duros fados me neguem
a glória de que eles cheguem
aos ternos ouvidos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Mas se ditosos chegarem,
pois os solto a teu respeito,
dá-lhes abrigo no peito,
junta-os cos suspiros teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
E quando tornar a ver-te,
ajuntando rosto a rosto,
entre os que dermos de gosto,
restitui-me então os meus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Interpretação:
Nesta lira Dirceu se vê
no risco constante de sofrer queda fatal do alto do ombro desse gigante – neste particular, “do trono dos braços
seus”. Deste modo, a introdução da figura
de Marília elevada ao estado sublime, funciona sobre o leitor como um fator de
surpresa: pela submissão, a necessidade de amparo da mulher.
Dirceu demonstra que nada vai apagar o que viveram e que ninguém quebrará os
laços que construiram. E no final
vemos a promessa que um dia eles se reencontrarão, mas enquanto isso ele pede
que Marília guarde no peito as lembranças dele, assim como ele guardará
sempre as dela.
Característica do arcadismo na lira:
As
principais características do arcadismo na lira são a idealização da
mulher amada e a simplicidade da linguagem no contexto geral. Há também presença do locus amoenus (lugar ameno).
Glossário:
Ímpio: Que não tem fé; incrédulo.
Fado: Destino; acaso.
Funesto: Fatal; mortal; letal.
Situação Histórica:
A terceira
parte foi escrita possivelmente depois da prisão. Ele aborta sobre a desilusão,
despedida de Marília, desenganos, traições, amores, que inclusive não são
mais dedicados somente a Marília, que já não aparece com tanta frequência. Essa
parte parece evidenciar uma tentativa (ou não) de superação por parte de
Dirceu. Alguns críticos contestam a autenticidade dessa última parte.
Marcella Dias Dos Santos/ nº27/ 1ºE
Parte III - Lira V
Parte III - Lira V
Eu não sou, minha Nise, pegureiro
Que viva de guardar alheio gado;
Nem sou pastor grosseiro,
Dos frios gelos e do sol queimado,
Que veste as pardas lãs do seu cordeiro.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
A Cresso não igualo no tesouro;
Mas deu-me a sorte com que honrado viva.
Não cinjo coroa d’ouro;
Mas povos mando, e na testa altiva
Verdeja a coroa do sagrado louro.
Graças,
ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
Maldito seja aquele que só trata
De contar, escondido, a vil riqueza,
Que, cego, se arrebata
Em buscar nos avós a vã nobreza,
Com que aos mais homens, seus iguais, abata.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
As fortunas, que em torno de mim vejo,
Por falsos bens, que enganam, não reputo;
Mas antes mais desejo:
Não para me voltar soberbo em bruto,
Por ver-me grande, quando a mão te beijo.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
Pela ninfa, que jaz vertida em louro,
O grande deus Apolo não delira?
Jove, mudado em touro
E já mudado em velha não suspira?
Seguir aos deuses nunca foi desdouro.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
Pertendam Anibais
honrar a História,
Cinjam com a mão, de sangue cheia,
Os louros da vitória;
Eu revolvo os teus dons na minha ideia:
Só dons que vêm do céu são minha glória.
Graças, ó Nise bela,
Graças à minha estrela!
Glossário:
Pegureiro: guardador de gado. Relativo a pastor.
Vil : que
degrada o homem. Desprezível.
Reputo:
Julgar, ter em conta, considerar.
Desdouro: Aquilo que é desonroso ou que mancha a reputação.
Cinjam/
Cinjo: [cingir] Aquilo que é desonroso ou que mancha a
reputação. (figurado) Limitar, restringir.
Jove: equivalente ao
deus Júpiter( mitologia romana).
Aníbais: [Aníbal] foi um general e estadista cartaginês considerado por muitos como um dos maiores táticos militares da história.
Interpretação e análise:
A lira V da terceira parte do livro Marília de Dirceu é muito parecida com a lira I da primeira parte do mesmo livro e, por esse motivo, há que diga quem diga que esta lira é a primeira versão da lira apresentada da parte I. Há duas possíveis interpretações possíveis para a lira V, quando pesquisamos sobre a lira, uma delas diz que ela "teria sido composta no Brasil, embora seus versos estejam dirigidos não a Marília mas a uma Nise" (como proposto por Rodrigues Lapa/ fonte: www.dominiopublico.gov.br/ );e, a segunda seria a de que Nise poderia ser um outro pseudônimo pra Maria Dorotéia. Porém em qualquer uma que seja a interpretação, na lira o poeta traça seu perfil, assim como na lira I (parte I), mostra desprezo por quem contempla o dinheiro que nem mesmo seria de sua propriedade, querendo demonstrar, ao mesmo tempo, não ser assim. Deseja demonstrar além de tudo sua humildade, caráter e amor.
O bucolismo não é encontrado na lira ( diferentemente do que ocorre na lira I da parte I). A linguagem não é rebuscada, é simples e utiliza um vocabulário de fácil compreensão, além de haver a utilização de figuras mitológicas no decorrer da lira.
Não se tem certeza sobre a situação histórica da lira, mas acredita-se que possa ter sido escrita no Brasil, segundo a primeira possível interpretação, ou quando estava exilado já que não escreveu após seu degredo.
Jéssica Paula de Lima Nolasco. / nº17 / 1ºE
Parte III - Lira III
Lira III
Tu não verás, Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho, e a rica, terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos,
Ou da minada serra.
Não verás separar ao hábil negro
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
No fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos;
Queimar as capoeiras ainda novas;
Servir de adubo à terra a fértil cinza;
Lançar os grãos nas covas.
Não verás enrolar negros pacotes
Das secas folhas do cheiroso fumo;
Nem espremer entre as dentadas rodas
Da doce cana o sumo
.
Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos;
Ver-me-ás folhear os grande livros,
E decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus consultos.
Tu me farás gostosa companhia,
Lendo os fatos da sábia mestra história,
E os cantos da poesia.
Lerás em alta voz a imagem bela,
Eu vendo que lhe dás o justo apreço,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.
Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
Que tens quem leve à mais remota idade
A tua formosura.
Glossário:
Minada- escavada.
Granetes-pequenos grãos
Capoeiras:-mato nascido nas áreas em que se faz a derrubada
de matas virgens.
Pleito- expressão jurídica para designar litígio,conflito
Fastos- registros públicos de fatos ou obras memoráveis.
Bateia:-gamela de madeira usada para a lavagem de areia ou
cascalho que contenha mineirais preciosos.
Esmeril- resíduo de minerais pesados.
Interpretação:
Na primeira e na segunda estrofe predomina o trabalho
escravo nas atividades econômicas, na terceira estrofe predomina o trabalho
pré-industrial na produção do açúcar e do fumo.
Nas outras ele demonstra sua condição modesta, faz elogio
desta vida simples e tranquila que levara a dois. A felicidade conjugal está
evidente na “gostosa companhia”, ou seja, na satisfação e no prazer que a amada
levaria Dirceu.
Na ultima o eu lírico propõe que a beleza de Marília seja
eternizada. Em uma vida irreal de casados (o sonho do casamento que ainda não
se concretizou), o eu lírico não enaltece só Marília, mas também a si próprio.
Essa lira está ligada a paisagem física e humana do Brasil
daquela época.
Características do Arcadismo na Lira:
As características do arcadismo presente na lira é a aurea mediocritas(o
culto da vida simples) e o pastoralismo que é a exaltação da vida no campo.
Situação Histórica:
Aluna:Ana Caroline L.Henrique/nº:04 /1º "E"
Parte III - Lira I
Parte III |
Lira I
Convidou-me a ver seu Templo
O cego Cupido um dia;
Encheu-se de gosto o peito,
Fiz deste Deus um conceito,
Como dele não fazia.
Aqui vejo descorados
Os terníssimos amantes,
Entre as cadeias gemerem;
Vejo nas piras arderem
As entranhas palpitantes.
A quem amas, quanto avistas
(Diz Cupido) não aterra;
Quem quer cingir o loureiro
Também vai sofrer primeiro
Todo o trabalho da guerra.
Contudo, que te dilates
Neste sítio não convenho;
Deixa a estância lastimosa,
Vem ver a sala formosa
Aonde o meu sólio tenho.
Entre noutro grande Templo;
Que perspectiva tão grata!
Tudo quanto nele vejo
Passa além do meu desejo,
E o discurso me arrebata.
É de mármore, e de jaspe
O soberbo frontispício;
É todo por dentro de ouro;
E a um tão rico tesouro
Inda excede o artifício.
As janelas não se adornam
De sedas de finas cores;
Em lugar dos cortinados,
Estão presos, e enlaçados
Festões de mimosas flores.
Em torno da sala augusta
Ardem dourados braseiros,
Queimam resinas que estalam,
E postas em fumo exalam
Da Panchaia os gratos cheiros.
Ao pé do trono os seus Gênios
Alegres hinos entoam;
Dançam as Graças formosas,
E aqui as horas gostosas
Em vez de correrem voam.
Estão sobre o pavimento
Igualmente reclinados,
Nos colos dos seus amores,
Os grandes Reis, e os Pastores,
De frescas rosas coroados.
Mal o acordo restauro,
Me diz o moço risonho,
Como ainda não reparas
Em tantas coisas tão raras,
De que este Templo componho?
Sabes a história de Jove?
Aqui tens o manso Touro,
Tens o Cisne decantado,
A Velha em que foi mudado,
Com a grossa chuva de ouro.
Aplica, Dirceu, agora
Os olhos ara esta parte,
Aqui tens a Lira d'ouro
Que inda estima o Pastor louro;
E a rede que enlaça a Marte.
Vês este arco destramente
De branco marfim ornado?
À casta Deusa servia,
E o perdeu quando dormia
Do gentil Pastor ao lado.
Vês esta lira? com ela
Tira Orfeu ao bem querido
Dos Infernos onde estava:
Vês este farol? guiava
Ao meu nadador de Abido.
Vês estas duas espadas
Ainda de sangue cheias?
A Tisbe, e a Dido mataram;
E os fortes pulsos ornaram
De Píramo, e mais de Enéias.
Sabes quem vai no navio,
Que este mar se levanta?
É Teseu. Vês esse pomo?
É de Cípide, assim como
São aqueles de Atlanta.
Vê agora estes retratos,
Que destros pincéis fizeram,
Ah! que pinturas divinas!
Todas são das heroínas,
Que mais vitórias me deram.
Repara nesse semblante,
É o semblante de Helena;
Lá se avista a Grega armada,
E aqui de Tróia abrasada
Se mostra a funesta cena.
Vê est'outra formosura?
É a bela Deidamia;
Lá tens Aquiles ao lado,
De uma saia disfarçado,
Como com ela vivia.
Cleópatra é quem se segue:
Ali tens lançado a linha
Marco Antônio sossegado,
Ao tempo em que Augusto irado
Com armada nau caminha.
Aqui Hérmia se figura;
Vê um Sábio dos maiores,
Qual infame delinqüente,
Ir desterrado, somente
Por cantar os seus amores.
Este é de Ônfale o retrato;
Aqui tens (quem o diria!)
Ao grande Hércules sentado
Com as mais damas no estrado,
Onde em seu obséquio fia.
Anda agora a est'outra parte,
Conheces, Dirceu, aquela?
Onde vais, lhe digo, explica,
Que beleza aqui nos fica,
Sem fazeres caso dela?
Ergo o rosto, ponho a vista
Na imagem não explicada,
Oh! quanto é digna de apreço!
Mal exclamo assim, conheço
Ser a minha doce amada.
O coração pelos olhos
Em terno pranto saía,
E no meu peito saltava;
Disfarçando amor, olhava
Para mim a furto, e ria.
Depois de passado tempo,
A mim se chega, e me abala;
Desperto de tanto assombro;
Ele bate no meu ombro,
E assim afável me fala:
Sim, caro Dirceu, é esta
A divina formosura,
Que te destina Cupido;
Aqui tens o laço urdido
Da tua imortal ventura.
Um Nume, Dirceu, um Nume,
Que os trabalhos de um humano
Desta sorte felicita,
Não é como se acredita,
Não é um Nume tirano.
Olha se a cega Fortuna,
De tudo quanto se cria,
Ou nos mares, ou na terra,
Em seus tesouros encerra
Outro bem de mais valia?
Lisas faces cor-de-rosa,
Brancos dentes, olhos belos,
Lindos beiços encarnados,
Pescoço, e peitos nevados,
Negros, e finos cabelos,
Não valem mais que cingires,
Com braço de sangue imundo,
Na cabeça o verde louro?
Do que teres montes de ouro?
Do que dares leis ao mundo?
Ah! ensina, sim, ensina
Ao vil mortal atrevido,
E ao peito que adora terno,
Que tem, para um o Inferno,
Para outro um Céu, o Cupido.
Ao resto Amor me convida,
Eu chorando a mão lhe beijo,
E lhe digo: Amor, perdoa
Não seguir-te; pois não voa
A ver mais o meu desejo.
INTERPRETAÇÃO:
Esta
lira faz alusão a vários contos e mitos da história, por exemplo, quando ele
fala do cisne se refere a lenda de Leda a quem Júpiter possuiu quando era um cisne, outro exemplo é Cleópatra filha de Ptolomeu XIII e rainha do Egito, seduziu
sucessivamente a César e a Marco Antônio, quando Marco Antonio foi derrotado
por Otávio a rainha suicidou-se, deixando se picar por uma cobra. Toda a lira
retrata momentos de traição, desencontros, e de muita decepção, por fim o amor
vence e ele se arrende ao perdão dado a sua amada, ou pelo menos o prometido
perdão.
CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO:
Uma das mais exploradas
características foi, sem dúvida, a suntuosidade e, de certo modo, a
complicação, principalmente da forma exterior (cultismo), além de perturbar a
sinceridade e lógica clássica. Daí o sentido pejorativo. Um dos postulados
básicos de Neoclassicismo é exatamente a reação ao preciosismo e confusão do
estilo barroco, ou seja, o Neoclassicismo significou antes de tudo, como a
própria palavra explicita um retorno ao equilíbrio, à simplicidade da
linguagem e de ideias da literatura. A imitação dos modelos clássicos volta à
tona, e a razão, mais uma vez, tem dias de glória. Esse racionalismo, essa
fundamentação racionalista, na literatura configurada na aceitação e volta ao
pensamento e cultura clássica. É explicito o bucolismo, onde o autor regressa
ao seu passado constantemente.
CARACTERÍSTICAS DA LIRA:
Esta
lira tem uma linguagem estereotipada da mitologia, do retrato da mulher ideal
que, no fundo, são decorrências do imperativo da razão e da lógica. Temos
manifestações pré românticas que é fato incontestável o
caráter transitório do Arcadismo. Assim ao mesmo tempo em que se busca o
primado absoluto da razão, cultiva-se o sentimento, a sensibilidade, o
irracionalismo, características tipicamente românticas. Falam de amores,
desenganos e traições, porém a figura da pastora não mais se encontra presente
com tanta intensidade são dedicadas não apenas a Marília, mas também a outras
pastoras.
SITUAÇÃO
HISTÓRICA:
Na terceira parte provavelmente o autor a escreve após o exílio, e
retrata um momento de desapego com a vida, de busca por uma motivação.
GLOSSÁRIO:
Terníssimos – amorosos apaixonados;
Piras
- perder o equilíbrio mental;
Loureiro
- nome popular de uma espécie de cerejeira nativa;
Dilates
– aumentar de tamanho;
Jaspe
– pedra fina e opaca;
Frontispício
- a fachada de uma construção;
Urdido
– enredado;
Suelen Soares / 1ºE / 36
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